A Unidade Internacional dos Trabalhadores Quarta Internacional (UIT-QI) e o Comitê de Enlace Internacional (IDP-LI) temos decidido nos unificar. Para tal fim convocamos um congresso nos primeiros dias de agosto de 2014. Também se incorporará o POS-MAS do México. Esta unidade de forças é o resultado de ir construindo uma resposta comum aos principais problemas da luta de classes internacional.
Crise capitalista e luta dos trabalhadores
Vivemos uma terrível crise do capitalismo que golpeia no mundo todo à classe trabalhadora afundando as condições de vida das massas: destruição de milhões de postos de trabalho; salários de miséria, fome e doenças; destruição dos sistemas públicos de saúde e educação; retrocesso dos direitos democráticos, aumento da repressão. Querem nos apresentar a situação como uma «desregulamentação transitória» do capitalismo, mas como marxistas sabemos que estamos em uma crise estrutural provocada pelo próprio sistema e que empurra inevitavelmente a uma maior destruição das forças produtivas.
Frente a esta ofensiva, os trabalhadores e os povos resistem e lutam. Menção especial exigem as revoluções do Norte de África e Oriente Médio onde caíram ditaduras que asseguravam a ordem imperialista durante décadas, países nos quais os trabalhadores/as e especialmente a juventude se levantaram por pão, trabalho e liberdade, e se propagaram na região como um rastilho de pólvora. Existe uma tentativa permanente da contra revolução e do imperialismo para deter e derrotar esses processos, como o faz o genocida de Assad na Síria ou o golpe de estado sanguinário de Al Sisi no Egito. Mas o movimento de massas resista sob as ruínas nos povoados e cidades destruídos pela ditadura síria, enquanto novas mobilizações enfrentam o poder dos militares egípcios. Nosso lugar está do lado dos povos e dos trabalhadores/as e da juventude, apoiando à esquerda revolucionária.
Este processo do Norte da África e Oriente Médio tem tido um forte impacto no mundo e alimentou respostas como a rebelião popular na Turquia (parque Gezi-Taksim). Á frente da resistência dos trabalhadores/as europeus contra os planos de austeridade que ditam os governos da EU e a troika (FMI-BCE-UE) está a classe trabalhadora grega que já fez mais de vinte greves gerais. Outra expressão desta luta é a massiva manifestação de Madrid do dia 22 de Março que não foi controlado pelos grandes sindicatos.
Apoiamos as lutas procurando uni-las em direção a uma greve geral europeia para derrotar os planos de austeridade, contra o pagamento da dívida e pela ruptura com a União Européia.
Tem havido greves destacadas nas minas de África do Sul, entre os têxteis da Índia, e mobilizações operárias e populares na Ásia. Na América Latina foram muito importantes as greves contra o ajuste que se expressaram nas jornadas de junho do Brasil, nas greves gerais de Argentina e Paraguai e nas mobilizações estudantis do Chile. Há um crescente desgaste político dos governos de centro esquerda que tinham aberto expectativas nos povos latino americanos e na esquerda mundial, especialmente em torno do governo Chávez na Venezuela.
Construir uma alternativa política.
À frente dessas lutas aparecem novos companheiros e companheiros dispostos a se brindar para ir até o fim, nas ruas da Síria, nas fábricas têxteis do Egito, nas greves gregas ou nas manifestações brasileiras. Cresce o sentimento antiburocrático, se questionam as velhas direções sindicais, se exige o controle das lutas a partir das assembléias. Enfrentam o poder do estado e de suas forças repressivas, o imperialismo, a patronal o os governos a seu serviço.
Enfrentam à burocracia sindical acomodada a gerir as migalhas que lhes deixa p poder capitalista e por isso tentam desativar qualquer luta ou diretamente as traem. Também devem enfrentar as falsas saídas políticas, como o chavismo, o islamismo político, ou às direções burguesas como a ucraniana. Também não é saída o reformismo daqueles que afirmam que basta com democratizar o Estado e o sistema como Syriza na Grécia.
Mas a alternativa sindical e política às velhas direções que controlam a classe trabalhadora e os povos não será o resultado de uma ação espontânea. É necessário construir partidos revolucionários que sejam ferramenta de luta para estes ativistas. São necessários partidos que assumam os problemas dos trabalhadores, que formem parte da classe trabalhadora e da juventude e dos setores populares e com eles construam as respostas para suas necessidades. Partidos que sem perder seu projeto político evitem o sectarismo, pois este é incompatível com o êxito das lutas dos trabalhadores e do povos. Partidos que defendam que governem os trabalhadores e os povos e defendam o socialismo. É a falta deste instrumento o que provoca derrotas e retrocessos, em que pese que os trabalhadores e os jovens demonstram uma capacidade de luta inquestionável. Ajudar a superar este problema é nosso objetivo.
Nos unificamos partindo da atualidade dos alicerces do marxismo revolucionário, do leninismo, da IV Internacional. A teoria da revolução permanente é fundamental para o diálogo com a vanguarda sindical e jovem da Tunísia e do Egito, para explicar que não há possibilidades de revolução por etapas. E que para conseguir inclusive as reivindicações democráticas é necessário que a revolução se combine com tarefas anticapitalistas e se converta em revolução socialista.
Reivindicamos a atualidade do Programa de Transição, texto básico sobre o qual foi fundada a IV Internacional que tem por objetivo responder e partir das necessidades mais sentidas das massas para batalhar decididamente para que os trabalhadores tomem o poder e construam uma sociedade socialista. A luta para que a classe trabalhadora assuma a defesa dos direitos democráticos individuais e coletivos para encabeças a luta dos oprimidos contra o sistema. Construindo partidos para a luta, baseados no centralismo democrático: ampla liberdade na discussão e unidade na ação. Partidos que fugindo de toda concepção burocrática e piramidal, defendam a democracia operária.
Reivindicamos a necessidade de uma organização internacional revolucionária, enfrentando concepções como a do castro chavismo. Pois falam de socialismo do Século XXI enquanto justificam a restauração capitalista na China e em Cuba e governam enfrentando os trabalhadores e pactuando com as multinacionais como na Venezuela. Tem uma política contra revolucionária que apoia ao regime genocida da Síria e apresentam ao mundo o reacionário regime iraniano como aliado dos trabalhadores e da juventude. Hoje o castro chavismo intenta reorientar a recomposição do velho estalinismo e constitui um obstáculo para a construção de uma direção revolucionária.
Reivindicamos o método com o qual chegamos à fusão. Colocamos no centro os problemas da luta de classes mundial. Com base nestas questões vitais elaboramos e discutimos para decidir como atuar. Temos continuado a debater acordos e divergências de forma democrática, franca e leal. Chegamos ao Congresso com um marco principista e um método comum, sem resolver todas as questões, mas convencidos que a nova organização possibilitará responder em melhores condições os desafios da luta de classes.
Achamos que o anuncio de nossa unificação é importante em meio a um panorama marcado pela divisão e fragmentação das forças revolucionárias. Este congresso é também um chamado a outras organizações revolucionárias e lutadores para trabalhar em conjunto com o objetivo de construir uma Internacional. Nosso objetivo é o de unir os/as revolucionários/as. Fugimos da auto proclamação e do sectarismo. Rejeitamos o reformismo que intenta passar a ideia de que existem saídas dentro do capitalismo, que este pode ser «humanizado».
Nos unificamos para continuar apoiando com mais força as lutas dos trabalhadores e dos povos contra o imperialismo e seus governos, para que a crise seja paga pelos capitalistas. O resultado da unificação da UIT-CI com o CEI (Partido da Democracia Operária/Turquia – Luta Internacionalista/Estado espanhol) e com a incorporação do POS-MAS do México, ainda está muito longe e resolver a crise de direção histórica, mas é um passo decidido com a vontade que a UIT-QI resultante seja o motor na reconstrução da IV Internacional. Hoje, mais do que nunca, a alternativa é socialismo ou barbárie.
Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-CI)
Comitê de Enlace Internacional, formado pelo Partido da Democracia Operária (IDP, Turquía) e Luta Internacionalista (LI, Estado espanhol).
Partido Operário Socialista – Movimento Ao Socialismo (POS-MAS, México).
Barcelona, 19 de abril de 2014.